Você já ouviu falar em gordura no fígado? Muita gente acha que esse problema está relacionado apenas ao consumo excessivo de álcool, mas não é bem assim. A chamada esteatose hepática tem se tornado cada vez mais comum, mesmo entre pessoas que não bebem ou consomem pouco álcool. Atingindo, principalmente, pacientes com obesidade.
Caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nos hepatócitos (células do fígado), a esteatose hepática tem se tornado uma preocupação crescente no cenário da saúde mundial. O fígado é um órgão que sofre em silêncio. Ele pode estar doente há anos sem emitir nenhum sinal evidente. E é justamente isso que torna a doença tão perigosa: a maioria das pessoas só descobre a condição quando ela já evoluiu para quadros mais graves, como fibrose, cirrose ou até câncer de fígado.
Nos Estados Unidos, país com altos índices de obesidade, menos de 5% das pessoas com a doença sabem que têm. E o dado mais preocupante: de 12% a 14% dos diagnosticados já apresentam a versão mais avançada da enfermidade.
O acúmulo de gordura no fígado está muito ligado ao estilo de vida moderno: alimentação desequilibrada, sedentarismo, excesso de peso, resistência à insulina, colesterol alto, triglicerídeos elevados, hipertensão entre outros. Tudo isso forma a chamada síndrome metabólica, que é um dos maiores fatores de risco para o problema.
Fígado e suas funções
O fígado é o maior órgão interno do corpo humano e desempenha um papel fundamental para a nossa saúde. Entre essas funções, estão a filtragem do sangue para remover toxinas e substâncias nocivas, a produção da bile que ajuda na digestão das gorduras, o armazenamento de vitaminas e minerais importantes, como ferro e vitaminas A, D, E e K, além da regulação dos níveis de glicose no sangue, transformando o açúcar em energia ou armazenando-o para uso posterior.
Além disso, é o responsável pelo metabolismo de medicamentos e álcool, facilitando sua eliminação do corpo, e participa da produção de proteínas essenciais para a coagulação do sangue e para o sistema imunológico. Por ser tão completo e multifuncional, o fígado é considerado um verdadeiro laboratório do corpo humano.
Obesidade e esteatose: entenda a conexão
A obesidade é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da esteatose hepática não alcoólica, condição que vem crescendo em proporção epidêmica nas últimas décadas. Isso porque o acúmulo excessivo de gordura corporal, especialmente na região abdominal, está diretamente ligado ao acúmulo de gordura no fígado mesmo na ausência de consumo significativo de álcool.
Indivíduos com obesidade, pré-diabetes, diabetes tipo 2 e outros componentes da síndrome metabólica, como hipertensão e colesterol alto, têm maior probabilidade de desenvolver a doença. Estima-se que a prevalência de esteato-hepatite não alcoólica atinge até 70% pessoas com diabetes, e uma parte considerável desses casos já apresenta graus avançados de fibrose hepática. Diante disso, o controle do peso corporal, por meio de alimentação balanceada e atividade física regular, torna-se uma medida essencial não apenas para prevenir a esteatose, mas também para evitar sua progressão para quadros mais extremos.
Como é feito o diagnóstico da esteatose hepática não alcoólica?
Como dito, diferente da cirrose ligada ao alcoolismo, essa forma da doença acomete principalmente pessoas que não fazem uso excessivo de bebidas alcoólicas.
O ponto de partida para a confirmação da doença está na detecção de gordura infiltrada nas células do fígado, os hepatócitos. O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue e imagem (ultrassom, tomografia ou ressonância). Os médicos observam três pontos principais:
● Se há gordura em mais de 5% das células do fígado;
● Se a pessoa não tem histórico de consumo excessivo de álcool;
● Se outras doenças hepáticas estão descartadas.
O diagnóstico precoce é essencial para interromper a progressão da doença. Com o avanço silencioso e potencialmente grave da esteatose hepática, identificar o problema a tempo pode ser decisivo para a saúde do fígado e para a qualidade de vida do paciente.
Uma doença que evolui no silêncio
A esteatose costuma se desenvolver sem causar sintomas claros. Isso significa que muitas pessoas convivem com a doença por anos sem saber e só descobrem o problema ao fazer exames de rotina.
Mesmo quando aparecem, os sinais são bem sutis: cansaço frequente, sensação de peso ou desconforto na parte superior direita do abdômen e mal-estar geral. Nada que chame tanta atenção. Mas o perigo mora justamente aí.
Esse “silêncio” permite que a doença avance e, em alguns casos, evolua para quadros mais graves, como fibrose, cirrose e até câncer no fígado. Por isso, quem tem fatores de risco, como obesidade, diabetes, colesterol alto ou pressão alta deve ficar de olho e conversar com seu médico.
Embora seja uma doença silenciosa, suas consequências podem ser graves. A boa notícia é que, com mudanças no estilo de vida, como uma alimentação mais equilibrada, prática de exercícios físicos e acompanhamento médico regular, é possível prevenir e até reverter o quadro nos estágios iniciais. Por isso, se você faz parte do grupo de risco ou se identificou com os sinais descritos, não espere os sintomas se agravarem. Seu fígado pode não reclamar, mas merece sua atenção.
Referências
“Esteatose Hepática”. Sociedade Brasileira de Hepatologia. Disponível em: https://sbhepatologia.org.br/imprensa/esteatose-hepatica/. Acesso em: 08 abr. 2025.
“Esteatose hepática: obesidade e excesso de álcool são causas da doença”. Hospital Sírio Libanês. Disponível em: https://hospitalsiriolibanes.org.br/imprensa/esteatose-hepatica-obesidade-e-excesso-de-alcool-sao-causas-da-doenca. Acesso em: 08 abr. 2025.
“Obesidade e Esteatose grave: A importância da avaliação bioquímica e escores”. Scielo Brazil. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abcd/a/m4rLH5nB9ctnSvMQ9FpdTFJ/. Acesso em 08 abr. 2025.