A obesidade infantil já pode ser considerada o problema crônico que mais prevalece no mundo, um desafio para a saúde pública e para a família.
A proporção da obesidade em crianças brasileiras é clara: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade.
As crianças em geral ganham peso com facilidade devido a fatores como: falta de exercício físico, hábitos alimentares pouco saudáveis, sono insuficiente, estresse e aumento do uso de aparelhos tecnológicos. Além disso, muitas crianças não têm acesso a alimentos mais saudáveis, pelas condições de vida ou por descuido da família.
Portanto, a prevenção da obesidade deve ser iniciada desde a infância, na construção de hábitos saudáveis pela família – na alimentação, nas atividades diárias, em incentivos à prática de atividade física, entre outros.
A obesidade infantil e seu impacto
A obesidade não é apenas um problema estético, mas uma doença que provoca o surgimento de vários outros problemas de saúde.
Os problemas da obesidade infantil podem iniciar ainda na gestação da mãe – quando não há nutrição adequada ou excesso de peso – ou quando o aleitamento é de curta duração e a introdução de alimentos, inadequada.
Por isso, é necessário ligar um sinal de alerta com relação ao estilo de vida ofertado para as crianças.
O excesso de alimentos gordurosos virou parte da rotina dos pequenos, assim como uma vida mais sedentária. Essa combinação causa um problema grave: a obesidade infantil, juntamente com outros problemas, como os transtornos psicológicos.
Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, o Brasil estará na 5ª posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes com obesidade em 2030, com apenas 2% de chance de reverter essa situação se nada for feito.
Especialistas mostram que, principalmente no período de covid-19, o confinamento das crianças em suas casas contribuiu com a restrição de exercícios físicos, estresse emocional da situação vivenciada, e acentuou a curva do crescimento da obesidade infantil de forma geral.
Além disso, a vida sedentária é facilitada pelo consumo maior de tecnológicos (computador, televisão, videogame, etc), fazendo com que as crianças não precisem se esforçar fisicamente.
Riscos da obesidade nas crianças
A obesidade infantil é resultado de uma série de fatores genéticos e comportamentais, que atuam em vários contextos: familiar, escolar e social.
Com isso, a obesidade na infância está associada a um risco aumentado de múltiplos distúrbios, como diabetes, doenças cardiovasculares, cânceres, entre outros, além da possibilidade de morte prematura na vida adulta.
Para evitar esses riscos, é essencial que a introdução alimentar seja feita no período correto (a partir dos 6 meses, após o período de aleitamento materno exclusivo) e com os alimentos balanceados.
Portanto, alimentos processados e industrializados devem sair de cena e dar espaço aos alimentos que já conhecemos bem, como frutas, verduras, etc.
Além de manter uma alimentação equilibrada e envolver as crianças em atividades físicas, educativas e funcionais, deve-se pensar em hábitos e rotinas que prezam pelo bem-estar social e emocional.
Principalmente quando a criança já apresenta sobrepeso ou obesidade, por conta da doença, ela sobre bullying em todos os ambientes. Isso afeta a autoestima da criança e provoca um isolamento, gerando estresse, aumentando a ansiedade e desencadeando compulsão alimentar.
A influência da família na obesidade infantil
Se engana quem pensa que a obesidade está ligada apenas à falta de exercício ou “comer muito”. Primeiramente, precisamos entender que é uma doença multifatorial, em que fatores genéticos, metabólicos, sociais, psicológicos e ambientais estão envolvidos.
Estudos mostram que fatores genéticos têm influência no sobrepeso de crianças e adolescentes. A síndrome de Prader-Willi (SPW) e Síndrome de Down são doenças que geram propensão à obesidade na infância e adolescência.
Além disso, uma pesquisa feita pela Peninsula Medical School (Inglaterra), publicada na revista científica “International Journal of Obesity” concluiu que mães obesas apresentaram dez vezes mais probabilidade de ter filhas obesas, e entre pais e filhos, a probabilidade foi seis vezes maior. Ou seja, as filhas espelhavam-se no comportamento da mãe e os filhos, no do pai, chegando-se à conclusão de que o vínculo não é apenas de cunho genético, e sim, de comportamento.
O exemplo começa em casa! Além de dedicar atenção ao filho, é necessário desenvolver hábitos saudáveis em família, como: fazer as refeições à mesa com a família reunida, apresentar e comer alimentos saudáveis e, principalmente, evitar deixar guloseimas disponíveis em casa.
Manter uma rotina é muito importante para a criança, porém, nada de excesso de atividades extracurriculares e mudanças constantes no dia a dia.
Portanto, a criança precisa possuir tempo para atividades como brincar, descansar, se alimentar corretamente e se relacionar com a família. Quando isso não acontece, pode desencadear transtornos psicológicos, emocionais e alimentares.
A mudança do estilo de vida, que compreende reeducação alimentar, atividade física e apoio psicológico, é a base do tratamento clínico multidisciplinar da obesidade. Sem ela, dificilmente se atingirá uma perda de peso necessária para melhorar a saúde e, muito menos, essa perda será duradoura.
Ambientes saudáveis para as crianças
Na hora de enfrentar a obesidade infantil, é necessário investigar todas as possíveis causas: genética e questões psicológicas.
E, principalmente, os pais devem oferecer alimentos mais saudáveis desde a primeira refeição da criança e não devem desistir no primeiro ‘não gosto’. Vamos às dicas para afastar a obesidade nas crianças de uma vez por todas:
- Crie rotinas
Faça as refeições em família; tenha hora e lugar para comer, sem distrações como televisão, celular, ‘tablet’, videogame.
- Inclua a criança nas tarefas
Ensine a preparar a refeição e deixe a criança escolher os alimentos (saudáveis!) na feira ou no supermercado.
- Planeje em família
Organize para que tenham juntos momentos de lazer, de estudo, de cuidado, saúde e atenção.
- Ouça a criança
Converse em família e saiba do dia a dia de cada um, principalmente da criança.
Assista ao documentário “Muito Além do Peso” e veja como reflete a preocupante realidade da alimentação infantil.
Obesidade nas crianças: procure ajuda especializada
Atualmente, a educação dos filhos tem sido cada vez mais desafiadora, diante de tantos estímulos, informações e cobranças. Mas, para que nossas crianças se desenvolvam de forma integral, precisamos investir não somente na sua saúde física, como também, na sua saúde emocional.
Portanto, quando esse desafio é acompanhado de uma doença, como a obesidade infantil, se torna mais complexo. O tratamento requer uma boa condução, caso contrário aumentam os riscos de fracasso, recuperação do peso perdido e até transtornos alimentares.